ENCONTRANDO UMA SAIDA


Sandra Eliane Radin

Encontrando uma saída
“Temos sorrido em publico do que não
sorriríamos quando ficássemos sozinho.”
Clarice Lispector

É dia de pagamento do auxilio emergencial. As filas diante das agências da Caixa Econômica Federal assumem proporções gigantescas. As pessoas se aglomeram, algumas ansiosas outras raivosas. Todas com medo mas poucas respeitando a distância de dois metros e o uso de máscara. Algumas com pouco roupa, sem guarda-chuva apesar do frio e da chuva mas nada disso importa.Tudo o que importa é os R$600,00 que irá ajudar na compra de alimentos para passar o mês e talvez até dê para comprar um botijão de gás e algumas caixas de leite.
Mesmo distante, do outro lado da rua o guarda municipal distingue a pessoa que conseguiu receber daquela que não teve seu nome contemplado na tal lista. Sofre junto, se solidariza, se coloca no lugar de cada homem e mulher que saíram cabisbaixos da agência. Vibra e sorri com os que conseguiram receber o auxilio e poderão colocar alimento em suas mesas.
Alguns saem sorrindo, outros, esquecidos que estão em público, deixam as lágrimas tomarem o lugar do sorriso da esperança, eliminada pelo não do caixa.
Apressado, sorrindo até pelo olhar e o andar, o jovem pai sai da agência e segue em direção a sua casa com os R$600,00 no bolso da sua velha e gasta calça jeans. Vai a pé para economizar. Chega no mercado próximo a sua casa e compra uma cesta básica, osso com tutano para uma sopa reforçada, uma galinha com miúdos, leite. Se permite comprar um pirulito grande e colorido para cada um dos seus dois filhos. Uma extravagância. Fica feliz. Veio a pé do centro da cidade até a vila mas valeu a pena, deu para comprar os pirulitos levando alegria a infância de seus filhos.
Apesar de ter perdido o emprego, amigos e familiares na pandemia consegue ainda acreditar que logo tudo irá passar, que conseguirá seu emprego de volta, sua dignidade. O vírus não o vencerá. Sorri confiante.
Porém, já em casa ao ver a euforia dos filhos com as guloseimas, a tristeza e o cansaço de sua esposa e a miséria de suas vidas, deixa-se cair pesadamente e no lugar do sorriso, lágrimas de dor, tristeza, impotência e fracasso assolam seu rosto.

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Sandra Eliane Radin

E-mail: radinser@hotmail.com

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